terça-feira, 1 de outubro de 2024

Insertas no passeio do tempo


As páginas da vida

refletem-se na branca estrutura

duma cadeira, duas…

A madeira, ainda intacta

guarda crónicas assinaladas 

no afinco da memória

Nos encostos retangulares

nas travessas 

na vacuidade dos assentos

E os fragmentos repousam

na brevidade dos relatórios 

nos instantes 

 

As sombras ficam no chão

marcadas nas lousas cor pérola

Entre grafites, containers

e paredes de ladrilho

Do imaginário 

emergem composições

reminiscências

que irradiam sinopses no índice 

duma  panorâmica diurna

de anteontem

Dum instantâneo que 

permanece inserido 

no passeio do tempo


A Imagem 

torna-se bucólica, calma

e gera um belo esboço

exposto na solitária rua

duma tarde de verão

E ali existe 

mora nas palavras

melancólicas dum poema 


© Cruz Martínez Vilas 


Este poema inspirou-mo uma imagem de duas cadeiras, que pertence à serie "Cadeiras à margem" do fotógrafo e amigo, Goris.